Conferência Tecnologia e Infância alerta sobre o efeito das telas na saúde física e mental de crianças e adolescentes

Especialistas abordaram o tema para uma plateia de 300 estudantes de escolas estaduais de Salvador

Déficit de atenção, transtornos alimentares, exposição precoce à sexualidade, abuso sexual virtual, bullying e cyberbullying estão entre as principais ameaças à integridade física e psíquica de crianças e adolescentes provocados pelo uso excessivo de telas e redes sociais. “Em um momento crucial de diversas ameaças à integridade física e psíquica de crianças e adolescentes, proferidas através de redes sociais, e de enfrentamento de situações de violência nas escolas, engendradas através de recursos tecnológicos, é premente propiciar a discussão dos temas aqui propostos, com os diversos enfoques possíveis, para garantir a efetiva proteção do público infantojuvenil”, destacou a promotora de Justiça Ana Emanuela Rossi, coordenadora do Centro de Apoio Operacional da Criança e do Adolescente (Caoca) do Ministério Público da Bahia, durante a abertura da 7ª Conferência Tecnologia e Infância.

O evento, que ocorreu na sexta-feira, dia 22, na sede da Instituição, no CAB, contou com a presença de cerca de 300 alunos das escolas estaduais Professor Edson Carneiro, Pedro Paulo Marques e Marques e Mestre Paulo dos Anjos, além de integrantes da rede de proteção da criança e do adolescente.

O procurador-geral de Justiça Pedro Maia destacou a importância de refletirmos sobre quanto tempo e a forma que cada um está usando as telas. “Cada vez que acessamos os celulares estamos mandando informações para as Big Techs (como são conhecidas as grandes empresas que dominam o mercado econômico da tecnologia), que passam a compreender quem somos, nossos interesses, gostos e todas as nossas informações passam a ter o viés econômico de captação de recursos”, destacou o chefe do MP baiano. No intuito de fazer os estudantes refletirem sobre a influência dos smartphones em suas rotinas, Pedro Maia perguntou a todos da plateia quem estava no momento da sua fala com o celular na mão e provocou a reflexão sobre como os smartphones disputam a nossa atenção a todo momento.

A programação da conferência foi aberta com a palestra ‘Capital de Vigilância: O futuro da privacidade na era da coleta massiva de dados”, que foi ministrada pelo professor da Universidade Federal da Bahia, Leobino Sampaio. Houve ainda um debate sobre o tema ‘O efeito das telas na saúde física e mental: como proteger crianças e adolescentes no mundo conectado’, que foi apresentado pelo neuropediatra Camilo Vieira Santos. Durante as palestras foram discutidos conceitos como ‘capitalismo de vigilância’, uma mutação do capitalismo que utiliza a imensurável quantidade de dados que os usuários fornecem gratuitamente a empresas de tecnologias (como as que detêm redes sociais e buscadores), transformando-a em matéria-prima e produto final altamente lucrativos.

O promotor de Justiça Alison Andrade, gerente do ‘Plano de ação de proteção de crianças e adolescentes no ambiente digital’ do MPBA, destacou a importância da conferência que reúne anualmente crianças e adolescentes para discussão de temáticas relacionadas à proteção desse público. “Nessa edição estamos falando de ‘capitalismo de vigilância’ e uso excessivo de telas, temas extremamente importantes e que vão impactar na vivência desses adolescentes. Trata-se hoje de um direito fundamental, que é o direito ao uso da tecnologia, mas precisamos orientar as crianças e adolescentes sobre o uso seguro dessas ferramentas”, ressaltou o promotor de Justiça. Também estiveram presentes na mesa de abertura os promotores de Justiça Adriano Marques, coordenador do Centro de Apoio Operacional da Educação (Ceduc); Márcio Fahel, coordenador do Centro de Estudos e Aperfeiçoamento Funcional (Ceaf); e Carlos Martheo Guanaes.

“As crianças e adolescentes são alvos fáceis de violações, seja porque já nasceram com acesso e em meio à tecnologia, em um mundo globalizado, seja pela ausência de supervisão parental, familiar e escolar ou pela menor capacidade, diante da condição de serem pessoas em desenvolvimento, e é por isso que temos que ter atenção, agindo para protegê-las, supervisionando as suas interações e buscando capacitá-las através de estratégias específicas e da difusão de conhecimento”, ressaltou a promotora de Justiça Ana Emanuela Rossi. Ela ressaltou que, além da exposição às mais diversas violações, as pesquisas científicas apontam que o uso excessivo e inadequado de telas prejudica a interação social e o desenvolvimento biopsicossocial de crianças e adolescentes, aumentando o nível de ansiedade e prejudicando a saúde física e mental destes, “o que igualmente precisa da atenção da rede, especialmente dos órgãos de saúde e educacionais”. A 7ª Conferência Tecnologia e Informação contou ainda com a participação da Safernet, organização não governamental, sem fins lucrativos, que reúne cientistas da computação, professores, pesquisadores e bacharéis em direito com a missão de defender e promover os direitos humanos na Internet.

Crédito das fotos: Adriano Cardoso

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